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Blitz entrevista My Chemical Romance


 Com a tragédia como ponto de partida, os norte-americanos MY CHEMICAL ROMANCE transformaram-se num caso raro de sucesso e conquistaram as tabelas de preferências um pouco por todo o lado – mas continuam a cantar a mortalidade como ninguém. As dores de crescimento de uma juventude irrequieta, destiladas de forma épica e teatral.
11 de Setembro, 2001. Nova Iorque, Estados Unidos da América. Gerard Way, na altura a trabalhar em Manhattan como artista numa empresa de banda-desenhada, assiste ao ataque terrorista que derruba as torres do World Trade Center e, no espaço de minutos, ceifa milhares de vidas.
Em Newark (Nova Jérsia) junta-se a um antigo colega de liceu – o baterista Matt Pelissier – e, juntos, escrevem uma canção motivada pelo ataque às torres gémeas. É precisamente «Skylines and Turnstiles» que assinala os primeiros passos dos My Chemical Romance, uma designação inspirada pelo autor Irvine Welch. Mikey Way – o irmão mais novo de Gerard – no baixo, Ray Toro e Frank Iero, nas guitarras, completam o quinteto, que começa a escrever canções e a tocar pelas caves da região. Talvez inspirados pelo sucesso do Thursday, os músicos misturam a atitude DIY do punk-rock com a força do metal, escrevendo uma série de temas que também revelam as suas influências góticas e uma incrível sensibilidade pop.
Em menos de um ano surge nos escaparates a estreia I Brought You Bullets, You Brought Me Your Love

O que é “The Black Parade” (O Desfile Negro)?
Gerard Way: Baseia-se na premissa de que quando se morre, a morte vem buscar-nos da forma que quisermos – e sinto que estará relacionado com o nosso subconsciente, com a nossa recordação mais forte. O herói é um homem chamado The Patient – e a sua história é que está a morrer muito jovem, num hospital. A sua recordação mais forte é de quando o pai o levou a um desfile quando era miúdo. Então, quando a morte o vem buscar ao hospital, vem na forma de um desfile negro.

A Liza Minelli canta na canção “Mama”. Como raio é que isso aconteceu?
GW: A minha avó era uma grande fã da Liza Minelli. Precisávamos de alguém que tivesse muito carácter, alguém que fosse muito forte e tivesse muita mágoa. Telefonámos-lhe e ela fê-lo de graça. Foi muito porreira e acertou logo no que queríamos. Mas nunca chegámos a encontrar-nos. Ela estava em Nova Iorque, nós em Los Angeles, e fomos só falando pela mesa de mistura.

O álbum é muito mais sombrio do que seria de esperar de uma banda com tanto sucesso.

GW: Sim. Sentimo-nos como um grupo de pessoas em recuperação, a ajudarem-se umas às outras, como os sobreviventes de um acidente terrível, ou assim. É a única forma de o descrever. Juntámo-nos e começámos a falar da altura em que quase não conseguimos. Sentíamo-nos muito alienados.

De quê? Os MCR estão no topo, neste momento.
GW: Certo. Não só nos sentimos extremamente sozinhos – porque não sabemos quem são os nossos amigos – mas há ainda muita gente que quer que nos aconteçam coisas más. Há uma série de gente que ia adorar que eu voltasse a beber [Gerard deixou a bebida e as drogas, após um esgotamento no Verão de 2004]. Há muita gente que adorava que eu me suicidasse. Quando me apercebo disso, sinto-me extremamente solitário.

Gerard, o facto de ter deixado de beber é famoso. Como lida com as pressões da banda hoje em dia?
GW: Na verdade, é mais fácil andar em digressão. Não sou lá muito bom a descomprimir. Ando às voltas, estou sempre a pensar nisto. Penso nisto no banho, penso nisto antes de ir para a cama.

Toda a gente diz que este álbum vos vai tornar enormes.
GW: Preparámo-nos física e mentalmente para o que aí vem. Decidimos correr um risco com o álbum e é por isso que soa como soa. Mas, ao assumir esse risco, também sabemos o que, potencialmente, aí vem em termos de fama e da nossa vida ficar ainda mais louca. Nunca nos podemos preparar realmente – mas não imagino que possa ser muito diferente do que já é em alguns países.

As pessoas dizem que vocês são os próximos Green Day.
GW: Dizem? Isso é interessante. O que é óptimo entre nós e os Green Day é que sinto que sempre tivémos o mesmo tipo de sentimentos. Eles são tão maiores que a vida e é isso que faz com que as pessoas não tirem os olhos deles. Andámos em digressão, vimo-los trabalhar e não parecem funcionar de forma muito diferente da nossa. Kerraang! / Planet Syndication (Tradução de Luís Bento)

Entrevista: Catherine Yates

http://blitz.aeiou.pt/

Novembro 16, 2007

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